Manaus

Manaus| Ritual indígena na Reserva do Tupé

11 mar 2015

A grande oca de madeira e palha surge logo depois do barranco e das areias brancas da Reserva São João do Tupé, a 25 quilômetros de barco de Manaus. Estamos em uma das maiores áreas protegidas do mundo, um mosaico de parques e reservas que cobre o último trecho do Rio Negro.

Ritual Indígena em Manaus

Construções como esta são raridade hoje no Amazonas. Mesmo nas áreas indígenas da floresta, apenas um quinto dos índios vive hoje em uma oca tradicional. O passeio pertinho da cidade é uma oportunidade única para conhecer de perto a cultura deles sem precisar se embrenhar na floresta.

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Um índio velho, de cocar e rosto pintado de vermelho, nos recebe na entrada. Raimundo é um kissibi kumu, o homem que guarda o conhecimento tradicional dos índios dessana, dirige rituais e lidera a aldeia.

Ele talvez seja um dos últimos kissibi kumu da Amazônia. Restam no máximo 1500 pessoas de sua etnia, a maioria em São Gabriel da Cacheira, a 800 quilômetros de Manaus.

 

Ritual Indígena Reserva do Tupé

Com tradução simultânea para o português, Raimundo explica o mito de criação do mundo na língua de seu povo. Só isso já valeu a visita. Na última década, pelos menos 110 idiomas desapareceram na Amazônia. A maioria junto com seus falantes.

Mas agora o que se ouve é o som das flautas. Os rapazes tocam em círculo. Nos pés, os chocalhos dão o ritmo dos passos, chamando as índias para a dança. Os movimentos lembram as festas e rituais em que as aldeias trocavam peixes e frutos.

O que fazer em Manaus 3

Quando Raimundo saiu de sua terra há 15 anos, trouxe junto as rezas, as cantorias e os saberes de seu povo. Além da oca, ele reconstruiu o Yupari, conjunto de flautas e trombetas feitas de tronco de palmeira e, segundo a crença dos dessana, do espírito dos mortos.

Parece um espetáculo pra turista ver? Pode ser. Mas fiz uma pesquisa básica e descobri que:

1- No século XVIII, os dessana estavam entre as 250 tribos indígenas massacradas pelos portugueses na região do Rio Negro.
2- Os pais e avós de Raimundo foram obrigados a queimar seus instrumentos. O motivo? Os padres que vinham catequisar os índios diziam que o ritual com as flautas era obra do demônio.
3- No século XIX, os índios que ainda estavam na floresta foram convencidos ou forçados a se mudar para vilas inventadas na beira do Rio Negro. Isolados, muitos morriam de fome e de doenças.
4- Os que restaram foram caçados de novo durante a febre da borracha.

 

O que ver em Manaus I

Diante disso tudo, dá pra dizer, no mínimo, que este é um grupo de sobreviventes.

No fim do ritual, os índios chamam para a dança e terminamos todos na roda do yupari.

FOTOS: CASSIANA PIZAIA

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Como ir – Reserva do Tupé

A maioria das agências leva turistas de barco até a reserva. Vale a pena incluir a visita em um pacote com outros passeios.
É possível também ir de barco a partir da Marina do Davi, a um quilômetro do Hotel Tropical, na Ponta Negra. Os barqueiros da Acandaf, a cooperativa de transporte da marina, cobram R$15,00 para levar até o Tupé. Informe-se antes sobre os horários de saída.
Fone: (92) 3658 6159

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por Cassiana Pizaia
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comentários

  1. Patrícia Mascari
    13 mar 2015

    Ler esse post me levou a uma viagem no tempo… em 2009 estivemos em Manaus com um grupo de amigos… um deles, nascido em Parintins, então conhecemos cada pedaço da capital, das redondezas e de Parintins sob a orientação de um nativo… a festa do boi, o encontro das águas, os flutuantes onde alimentamos os botos, as cachoeiras em Presidente Figueiredo… mas a sua descrição do passeio na tribo foi perfeita!!! Experiência incrível!

    • Cassiana Pizaia
      13 mar 2015

      Que bacana esta sua viagem, Patrícia. Nada como conhecer um lugar com ajuda de alguém que mora lá. Parintins está na minha lista de desejos! Beijo.

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