Floresta Nacional do Tapajós, Pará: como ir de Santarém e Alter do Chão
Dois caminhos levam por terra de Santarém, no Pará, à Floresta Nacional do Tapajós. O mais rápido é quase todo pela BR 163, a parte asfaltada da famosa Cuiabá-Santarém.
Pois eu preferi a forma mais bonita, e difícil, de chegar lá. Desviamos para oeste em direção ao Rio Tapajós e suas praias de águas azuis. Afinal, não fosse por elas, talvez eu não tivesse escolhido este pedaço de floresta pra conhecer e não outro qualquer no oceano verde que ocupa quase a metade do Brasil.
Uma estrada sinuosa e tranquila leva de Santarém às praias paradisíacas da vila de Alter do Chão, o destino da maioria dos turistas que chega até aqui. Escrevi sobre elas aqui.
Mas o objetivo agora é chegar à Flona Tajapós, uma das áreas mais protegidas de toda a Amazônia, com 600 mil hectares de montanhas, lagos e florestas nativas terminando em mais de 160 km de praias.
Com um olhar comprido para a Ilha do Amor, entramos na Transtapajós, nome pomposo para uma estrada de terra que margeia o rio até a floresta. No primeiro dia da viagem a Santarém, uma moradora havia dito: “Tem praia muito mais bonita do as de Alter”. E listou algumas do caminho que estamos seguindo.
Até a primeira delas, Pindobal, são apenas 7 quilómetros. Perto, mas não fácil. Estrada bem conservada, é verdade, mas feita de um areal que tira fácil o carro do rumo. A cada curva, uma derrapada e uma parada para pedir informação. E assim, entre o medo de parar direto no meio do mato ou se perder, chegamos lá.
Pindobal é uma longa praia, com águas mansas e transparentes e uma orla repleta de pequenos bares. Tentamos seguir adiante mas a persistência só durou até o próximo cruzamento.
Nada de placas, o areal cada vez pior. Um morador aconselha: ” Daqui pra frente, só com carro 4×4″. De carro alugado 1.0, melhor não discutir. Desviamos para Belterra, a sede do município que abriga estas praias todas e a maior parte da Floresta Nacional do Tapajós.
A cidade pequenina, com poucas quadras calçadas, jardins singelos e bem cuidados, não teria nada de especial se não fosse sua história.
Belterra é fruto de uma miragem. O palco de uma batalha improvável entre a realidade amazônica e o mundo industrial que surgia nos anos 20 e 30 do século passado.
O ciclo da borracha, que enlouqueceu a Amazônia entre 1890 e 1912, já tinha terminado quando Henry Ford, o magnata da indústria automobilística, resolveu plantar ele mesmo a borracha para os pneus dos seus carros. Queria escapar do monopólio inglês, dono das plantações da Malásia, as mesmas que tornaram obsoletas as seringueiras espalhadas no meio de nossas florestas.
Ford arrendou terras do governo brasileiro, cortou a mata e plantou, ou pelo menos tentou, milhares de seringueiras e duas vilas americanas nas margens do Tapajós.
A primeira experiência foi em Fordlândia, a poucos quilômetros daqui. A vila foi montada em 1928 com ruas, calçadas, luz elétrica, eletrodomésticos, hospitais, campos de golfe e relógios-ponto. Tudo padronizado, sem levar em conta o calor, as chuvas, a floresta, o modo de vida local.
A famosa linha de montagem de Ford não resistiu à Amazônia. Muito próximas, as árvores não cresciam direito e atraíram pragas. Vieram os incêndios, a malária, a febre amarela e, finalmente, uma rebelião de seringueiros.
Ford tentou de novo aqui em Belterra, onde reuniu mais de 3000 trabalhadores. Deu errado de novo. A invenção da borracha sintética acabou de vez com as ilusões e a área foi devolvida para o governo brasileiro em 1945.
Hoje Belterra é grande produtora do mel de uma abelha sem ferrão natural da Amazônia. E a porta de entrada para nosso destino, a floresta que cobriu de verde as máquinas de Henry Ford.
Conforme nos aproximamos, a paisagem vai mudando. A mata cresce, fica mais densa, até se transformar em dois paredões verdes ao lado da estradinha de chão.
Já estamos no meio da floresta quando surge o portal de madeira informando a entrada da Flona Tapajós, uma das 66 Florestas Nacionais da Amazônia brasileira. O posto do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade controla o acesso dos visitantes um pouco antes da comunidade de São Domingos.
Logo depois, aparecem as primeiras casas com telhado de palha da comunidade de Maguary. Do outro lado da estrada, poucas árvores nos separam do Rio Tapajós, uma paisagem tão incrível que faz esquecer as praias de Alter do Chão.
Já é fim de tarde quando chegamos à comunidade de Jamaraquá, nosso porto seguro entre o rio e a Floresta Amazônica.
Veja como foi minha aventura por lá aqui.
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Guia Caminho de Santarém até a Floresta Nacional do Tapajós | Informações Importantes
Como ir
De carro
De Santarém até Alter do Chão são 38 quilómetros de asfalto. Saindo da vila, vire à direita no posto de gasolina e depois à esquerda no campo de futebol. Dalí, são 7 quilómetros em estrada de chão até Pindobal. Se estiver de carro com tração, dá pra seguir adiante pela Transtapajós, passando pelas praias de Aramanai e Cajatuba, até chegar à Flona e a Jamaraquá. Mas atenção, antes de fazer este caminho, informe-se sobre as condições da estrada. E se prepare para perguntar muito.
Em Pindobal, você pode desviar para Belterra, como nós fizemos, e então pegar de novo a Transtapajós. São mais 8 km em estrada de terra bem conservada até a entrada da Floresta Nacional e 20 km até Jamaraquá. A viagem leva no máximo uma hora e meia.
Pela Br 163, são 47 km de Santarém até a entrada 7, que leva a Belterra. Mais 12 km de asfalto e você chega na Transtapajós.
De ônibus
Existem linhas de ônibus diárias para Jamaraquá. Saem normalmente às 11h em frente ao Colégio Santa Clara, na Avenida São Sebastião, em Santarém. O ônibus retorna às 5 da manhã da comunidade.
Pelo Rio Tapajós
O percurso de voadeira para Jamaraquá demora cerca de 1 hora a partir de Alter do Chão. De barco tradicional a motor, são três horas. As agências de Santarém e Alter fazem o passeio incluindo outras paradas no caminho. Em Alter, procure na orla os barqueiros da Associação de Turismo Fluvial. Os barcos são menores mas os preços são mais em conta e dá para negociar o percurso e os horários de partida e retorno. Se optar pelos barcos da Associação, prefira os que tiverem encosto e cobertura.
Fique de olho
Para entrar na Flona é preciso ter autorização do Instituto Chico Mendes e comprar os ingressos. O ICMBIO tem escritório em Santarém mas o mais prático é comprar no próprio posto que fica na estrada para a Flona, na Comunidade de São Domingos.
Fotos: Cassiana Pizaia
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Na trilha pela Floresta Nacional do Tapajós
Parabens!!! e um roteiro que nunca pensei em fazer… mas depois da materia me animei…..
A região de Alter do Chão é realmente fantástica, Adriana. Uma maneira diferente de conhecer a Amazônia.
Que lindo, fiquei realmente apaixonada. Preciso com certeza programar minhas férias!
Esta região do Pará é realmente muito interessante pra se visitar, Renata. Obrigada!
O Acre também é atualmente um ótimo lugar pra fazer turismo ecológico, morei lá na década de 80 e já era bom… agora está muito melhor.
Boa sugestão, Wilson Pizaia. A região Amazônica é extensa, riquíssima e pouco conhecida pelos turistas. Voltaremos lá em breve. Abraço.
como o Poeta diz meu incanto minha vida Santarém do meu amorrr Deus te deu tanta riqueza tanto incanto tanta beleza Santarém do meu amor…… que saudade que eu sinto da minha querida terra espero que um dia possa retorna as minhas raízes
🙂