Havana

Habana vieja: pelas ruas do bairro mais antigo de Havana

01 jun 2015

Habana Vieja foi minha introdução a Cuba, o teste de fogo para os dez dias que passei percorrendo a ilha. À primeira vista, o bairro mais antigo e visitado da cidade pode até parecer um point turístico. Boa parte dos prédios históricos está restaurada. Você encontra bons restaurantes, bares com música ao vivo nas esquinas, praças floridas, museus e galerias de arte. Conto mais sobre a recuperação aqui:

Cuba hoje: O que já mudou na ilha

Mas é só andar um pouco e prestar atenção para ver que o bairro não é um enclave turístico como alguns cayos cubanos. Oitenta mil cubanos moram aqui com suas casas, armazéns, escolas e postos de saúde. Alguns lugares vendem em CUC, a moeda que os turistas usam. Outros vendem em pesos cubanos, o dinheiro que paga os salários estatais.

Em uma hora você está no La Floridita, o bar onde o escritor Ernest Hemingway tomava seus goles meio século atrás e garçons com gravata-borboleta preparam um dos daiquiris mais caros da cidade ( sete dólares!). No outro, dá de cara com a escassez de produtos nas lojas frequentadas pelos cubanos. Está tudo ali, pra quem quer ver, quase uma aula de Cuba.

 

Barman La Floridita

Havana - O que ver 1

 

Mas esta é a melhor parte de começar a conhecer Havana por aqui. Dá pra se divertir, comer bem, conhecer a história e conviver com cubanos. Circular entre entre dois mundos, duas moedas, capitalismo e socialismo, Afinal, é para isso mesmo que a gente vem para Cuba, né?

Depois de bater muita perna, escolhei quatro ruas que, pra mim, reúnem não só as atrações turísticas mas também o espírito do centro histórico de Havana.

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Calle Obispo

Havana - O que conhecer

A principal rua do bairro histórico é um corredor super-movimentado, cercado por quatro séculos de história cubana.

De um lado está a Plaza de Armas, onde o governo colonial espanhol fundou a cidade em 1519. No outro extremo da rua, logo depois do La Floridita, fica o Capitólio, uma imitação livre do Capitólio de Washington, sede do parlamento a partir de 1929. É a região de Centro Havana.

-> O que fazer em Habana: O Bairro de Centro Habana

Enquanto o poder se transferia de um lado para o outro, era pela Calle Obispo que circulavam os poderosos (entre eles os bispos, por isso o nome), os negócios e o dinheiro.

No começo do século XX, a rua entrou em decadência junto com todo o centro antigo. E foi por ela que a recuperação começou na década de 90.

À primeira vista, dois universos paralelos convivem na Obispo, divididos pelo tipo de moeda que cada um leva no bolso. O peso cubano paga os salários estatais e compra comida no armazém. O CUC , ou peso convertível, vale um dólar, compra 24 pesos cubanos e tudo o que o turista precisa.

Como é Havana II

As duas moedas circulam livremente na Calle Obispo. Você pode pagar com o dinheiro que quiser. Mas é lógico que cada lugar seleciona naturalmente os clientes pelo tipo de mercadoria que oferece e, principalmente, pelo preço.

Os estrangeiros comem nos restaurantes onde se cobra de 6 a 12 CUC (1 dólar = 1 CUC ) por uma boa refeição. Os cubanos compram nas janelinhas que vendem pizzetas, croquetes, uma bola de sorvete ou um refresco por 1 peso cubano (R$0,16). Pelo mesmo preço, comprei um congrejito de guayaba, um docinho frito recheado de goiabada. Um sanduiche de presunto sai por 15 pesos.

Mas nem tudo é assim tão óbvio. A livraria que mais gostei no bairro é a Fayad Jamis (entre Calle Aguiar e Calle Habana), que vende em pesos cubanos. A maior livraria da cidade, a Moderna Poesia ( perto do La Floridita) cobra em CUC e tem não o acervo, o preço, nem o clima da Fayad.

Principais atrações da Calle Obispo:


Havana - Onde ir 3Havana em detalhes

 

 

 

 

 

 

 

 

Caminhando do Parque Central (Capitólio) em direção à Praça de Armas:

Bar La Floridita. Conhecido por ser um dos preferidos de Hemingway. Mas sua fama começou ainda na década de trinta, quanto o barman Constante criou a famosa receita do daiquiri. É turístico e é imperdível.
Casa del Ron y del Tabaco. Uma loja com bastante variedade pra conhecer, ou comprar, duas das maiores instituições cubanas.
La Moderna Poesia.A maior livraria da cidade, tem fachada imponente e preços em CUC.
Associação Cubana de Artesanos. O melhor local para procurar lembranças no centro histórico.
Farmácias Taquechel e Johnson. Além de vender remédios, elas serviam ponto de encontro da sociedade cubana no final do século XIX. Restauradas, são hoje uma mistura de museu e farmácia de produtos naturais.
Livraria Fayad Jamis . Tem ambiente agradável e vende livros em peso cubano.
Telepunto da Ectesa, a empresa de comunicações cubana. Tem o cartão de internet mais barato da cidade ( 4,5 Cuc) mas pra comprar um é preciso esperar nas filas do lado de fora.
Hotel Ambos Mundos. O quarto 511, onde o escritor Ernest Heminguay viveu durante alguns anos, virou um pequeno e caprichado museu. Estão lá os móveis da época, as fotos, a maquina de escrever e o material de pesca que dividia com o pescador que inspirou O Velho e o Mar.
La Monheguita Azul. A lojinha de fachada graciosa vende armarinhos ao lado Hotel Ambos Mundos.

Para observar:
Detalhes de Havana 2A casa mais antiga da cidade, construída em 1648, fica perto da Plaza de Armas, entre os números 117 a 119. Observe o formato interessante da caixa de correios.
– As lojinhas nas escadarias dos edifícios. Os moradores aproveitam os menores espaços para vender objetos de madeira, pequenos instrumentos musicais, fotos e tudo o mais que lembre Che Guevara e a Revolução Socialista.

 

 

PLAZA DE ARMAS

Havana - O que ver III

 

Havana nasceu nesta praça, pertinho da baía e protegida dos piratas e invasores estrangeiros por fortalezas espanholas.

Estão aqui mais interessantes e antigas construções de Habana Vieja. Mas este é também um daqueles lugares pra simplesmente se estar e aproveitar. Apesar do movimento, o ambiente é tranquilo. Algumas pessoas me pediram dinheiro, mas não vi mendigos, nem drogas, nem moradores de rua.

Uma grande feira de livros e objetos usados ocupa quase toda a praça. É uma delícia perder-se entre peças antigas, cartazes, fotos da Revolução e edições de várias décadas.

Para se divertir: A qualquer hora, surge um espetáculo de rua em frente ao Palácio de los Capitannes Generales. Assisti a apresentações de música cubana, bloco carnavalesco e até dança escocesa. Enquanto os turistas se aglomeram, os velhos cubanos jogam xadrez nos bancos da praça.

Principais atrações:

Atrações turísticas em HavanaCastillo de la Real Fuerza. É o mais antigo dos fortes construídos pelos espanhóis no século XVI para proteger a baía. Guarda hoje um museu náutico com réplicas de navios antigos e barras de ouro e prata resgatadas de galeões naufragados.

 

 

O que ver em Havana - Capitales GeneralesPalácio de los Capitannes Gerenerales: Erguido no século XVIII, servia ao mesmo tempo de residência para o governador espanhol, assembleia e cadeia. Foi também sede da república no início do século XX. Hoje abriga o Museu da Cidade.

 

 

O que ver em Havana -Templete

El Templete. O pequeno templo é a construção neoclássica mais antiga de Habana Vieja. Foi construído no local onde foi rezada a primeira missa espanhola em Cuba.

 

 

O que ver em Havana - Hotel Santa IsabelO Hotel Santa Isabel: O belo casarão foi residência de um conde no século 18 e o melhor hotel de Havana no século 19. Após décadas de abandono, passou por restauração e voltou a ser um dos principais hotéis da cidade.
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Calle Brasil (chamada também de Teniente Rey)

O que ver em Havana - Calle Brasil

 

“Aqui no estuve Hemingway” (Hemingway não esteve aqui). A placa na entrada do pequeno paladar revela bem o espírito desta rua, que liga a região do Capitólio à Plaza Vieja.

A única atração tradicional, já adianto, é a Farmácia La Reunión, a maior e mais interessante entre as três que seguem o estilo farmácia-museu em Habana Vieja. Fora ela, o que se vê é basicamente a vida como ela é aqui em Cuba.

Há alguns prédios bem cuidados e lojas de souvenir, mas os turistas aqui parecem ser um detalhe. A rua é principalmente dos cubanos.

A Brasil é o lugar das oficinas: de marcenaria, restauração, de consertos. Mas tem também escola primária, boteco no estilo brasileiro, quitanda, mercearia com balança pra pesar a comida vendida a granel e tabela de preço na porta.

Quer saber como vive o povo cubano de verdade? Pois este é um bom lugar pra começar. E o melhor horário é o fim de tarde, quando as mulheres se sentam na frente das casas, os meninos improvisam a pelada e está todo mundo mais disposto a um bate-papo.

 

Como é Havana 2Havana - Como é

As prateleiras da padaria estão vazias, mas os fornos funcionam. Um pão grande no estilo caseiro custa cinco pesos cubanos. Por um peso cubano, você leva um pãozinho ou compra uma fruta de época nas bancas sobre rodas que vendem na rua.

Bares e cafés mais arrumadinhos, com clientela turística, funcionam perto do Capitólio. Tem estilo mais personalizado, com livros de arte, discos e objetos antigos fazendo parte da decoração.

Realmente, Hemingway não esteve aqui. Mas, se estivesse vivo hoje, provavelmente tomaria seus mojitos em um balcão da Calle Brasil.

 

PLAZA VIEJA
Onde ir em Havana- Plaza Vieja

O nome não parece combinar com a praça mais simpática e jovial do centro histórico.

Sim, ela é realmente muito antiga, ainda do século 16. Mas a reforma dos últimos anos trouxe leveza e frescor para as residências das famílias mais ricas da cidade durante três séculos.

A praça, que chegou a ser usada como estacionamento, hoje tem floreiras, mesinhas na calçada e música ao vivo. As cores suaves dos prédios destacam os belos vitrais em formato de meia lua, característicos do século 18.

É interessante comparar a praça de hoje com as fotos que mostram o antes e o depois de cada prédio recuperado. Hoje, eles estão ocupados por galerias de arte e instituições ligadas à cultura. Uma escola primária também funciona aqui.

Pra apreciar: A tranquilidade da Plaza Vieja parece encantar também as crianças cubanas que moram na região. Nos finais de tarde, enquanto os turistas lotam os bares, elas chegam para jogar futebol, bolinha de gude ou brincar com as pombas.
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Calle Mercaderes

Havana à noite

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A delicada placa sinalizando a antiga passagem de carruagens dá uma pista do espírito desta rua, a mais charmosa de Havana Vieja.

Toda a Calle Mercaderes, da Plaza Vieja até a região da Plaza de la Catedral, foi restaurada de forma minuciosa. E não são apenas as cores, as placas com o registro histórico, os detalhes da arquitetura, as velhas luminárias.

Os edifícios recuperaram também a antiga vocação comercial da rua, e de um jeito que pega os turistas pelos sentidos.
O perfume das ervas vendidas a granel se espalha pela loja de especiarias Marco Polo. Logo adiante, a bela loja com vitrais coloridos prepara na hora seu perfume usando as antigas fragrâncias da ilha de Cuba.

 

O que conhecer em Havana - Mercaderes

O Museu do Chocolate está sempre lotado de cubanos e turistas deliciados com as dezenas de receitas preparadas na própria loja. Também tem a loja de sabão artesanal, o Museu da Cerâmica, o Museu de Armas, de Bonsai , as galerias, os pequenos museus, os paladares.

Um primor para ninguém botar defeito.

Detalhes de Havana 5Para vistar: Casa de La Obra Pia. O grande casarão amarelo, em estilo barroco, reproduz em seu interior uma mansão sofisticada dos séculos 17 e 18. Móveis de época, vasos de cerâmica, cristais e esculturas ocupam no segundo piso. No inferior, há uma curiosa coleção e máquinas de costura e dedais antigos.

 

 

Detalhes de Havana 4Por perto: A Calle Ofícios, paralela à Mercaderes, parte da Plaza de Armas e tem estilo parecido. A atração mais interessante é a Casa de Los Árabes, onde funcionou a primeira escola de Havana. As pinturas, azulejos, janelas e balcões seguem o estilo mourisco. Além do museu, há também uma pequena mesquita.

 

 

PLAZA DE LA CATEDRAL

Havana - Catedral

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A imponência da Catedral de San Cristóbal define o espírito da praça mas elegante e sóbria da cidade.
Quase todos os demais edifícios são da mesma época, o século XVIII, e seguem padrão semelhante, com fachadas barrocas em pedra, pórticos e arcadas. Apenas as janelas e grades pintadas de azul quebram a seriedade.

A animação vem da música ao vivo no Restaurante El Pátio, o inquilino atual do Palácio de los Marqueses de Águas Claras.Bem em frente fica o Palácio de los Marqueses de Arcos. Diante da catedral, o Museu de Arte Colonial ocupa um prédio mais antigo da praça.

Pra decobrir: A Callejon Del Chorro é uma ruazinha curta, sem saída, repleta de pequenos paladares e cafés charmosos. Fica à esquerda de quem chega à praça, antes do El Patio. A Callejon termina no Taller Experimental de Grafica, um misto de oficina e galeria de artes gráficas.

Bares de HavanaPor perto: Virando à esquerda, na Calle Empedrado, que passa em frente à catedral, você encontra La Bodeguita del Medio. O bar-restaurante ficou famoso por ser um dos preferidos de Hemingway. Hoje o balcão é disputadíssimo pelos turistas. Dê uma olhada no restaurante dos fundos. A comida e a bebida são caras mas o ambiente vale pelo menos um mojito.
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Calle O’Reilly

Havana Vieja - Calle O'Reilly

A Calle O’Reilly mostra como é o centro histórico de Havana onde os restauradores ainda não chegaram. E não precisa ir muito longe, a rua passa em frente à Plaza de la Catedral e corta o bairro, sempre paralela à Calle Obispo.

Apenas as primeiras quadras já estão recuperadas. Depois, é outro mundo. A rua é repleta de edifícios interessantes, mas a pintura descascada, as rachaduras e infiltrações escondem os belos detalhes. Ainda assim, e talvez por isso mesmo, a Calle O’Oreilly vale a pena.

 

O que ver em Havana I

Aqui, à margem do corredor turístico, muitos cuentapropistas, o pessoal autorizado pelo governo a trabalhar por conta própria, instalaram suas oficinas.

Dezenas de relojoeiros trabalham dentro destes prédios antigos. Das janelas, dá para ver as manicures atarefadas, com os esmaltes coloridos sobre as bancadas. Cada unha feita custa 2 CUC.

É um ambiente popular, com lençóis nas sacadas, vendedores de frutas e garotos jogando beisebol no fim da tarde.

Ruas de HavanaPara ver e visitar: Pare na esquina com a Calle Villegas e observe a fachada avermelhada com pinturas em grafite, feitas à imagem e semelhança das pessoas que passam pela rua. Em frente, o ateliê de um artista conhecido na cidade tem ambiente alternativo com pinturas e esculturas em sucata.

 

 

FOTOS: Cassiana Pizaia
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por Cassiana Pizaia
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comentários

  1. Vanessa
    25 fev 2016

    Oi! Estou preparando minha viagem pra daqui duas semanas. Suas dicas tem me ajudado (e animado!) muito : ) . Depois voto pra contar!

    • Cassiana Pizaia
      29 fev 2016

      Bom saber disso, Vanessa. Vou esperar, hein? Obrigada e uma ótima viagem pra você!

  2. Severino Oliveira Jr
    21 mar 2016

    Oi Cassiana, excelente seu blog, quantos dias inteiros vc acha necessário para conhecer o principal de Havana? OBG, Severino. Se puderes responder direto no meu email, agradeço.

    • Cassiana Pizaia
      21 mar 2016

      Olá, Severino. Mandei por e-mail mas respondo aqui também para ajudar os outros leitores. Creio que, para conhecer o essencial, são necessários pelo menos três dias inteiros. Um para o bairro de Habana Vieja, outro para Centro Havana e Malecón ( incluindo os museus) e outro para Vedado. Obrigada pelo contato!

  3. Luiz Alex Tasso
    12 nov 2017

    Olá Cassiana,
    De tudo que vi pela internet o seu blog é o mais completo e mais próximo da realidade. Parabéns pelo belo trabalho.
    Eu e minha esposa pretendemos ir a Cuba em Dezembro e gostaria de alguma ajuda com indicações de roteiro e hospedagem.
    Se puder nos responder por e-mail agradeceríamos muito.
    Mais uma vez parabéns e obrigado.
    Luiz Alex e Juliana

  4. Cristina Neves
    02 mar 2018

    Olá Cassiana.
    Sou uma portuguesa na procura de ideias para uma viagem independente até Cuba. Adorei o seu blog! No entanto, surgem algumas dúvidas. As entradas em museus, tanto em Havana como em Trinidad, são pagas?
    O euro é normalmente aceite?
    Desde já agradeço a sua ajuda!

    • Cassiana Pizaia
      05 mar 2018

      Olá, Cristina. Em Havana, há vários pequenos museus gratuitos, mas os mais importantes são pagos. O mais caro é o Museu da Revolução (8 CUC). O Castillo de la Real Fuerza, outro museu muito interessante, custa 3 CUC. Em Trinidad, a maioria das atrações é gratuita. Os que são pagos cobram valores mais baixos, 2 CUC em média. O Euro é aceito normalmente nas casas de câmbio. Mas, para as despesas gerais, você vai precisar trocá-los pela moeda cubana. Abraço!

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