Santa Catarina

O que fazer em Ribeirão da Ilha: história, restaurantes e as melhores ostras de Floripa

31 out 2017

Deixar as belas praias do leste e serpentear pela estradinha até Ribeirão da Ilha é como mergulhar no coração de Florianópolis.  Aquela parte que permanece lá, guardada no sul, distante de prédios novos, baladas e areias lotadas.

Era tudo o que eu queria depois de um dia cheio das coisas boas de Floripa. Tínhamos passado a manhã na Praia da Barra, almoçado às margens da Lagoa da Conceição e percorrido à tarde as praias menos conhecidas do sul. Depois de tudo isso, só havia espaço para sossego, aconchego e comida boa.

 

 

Foi exatamente o que encontramos.

A rodovia é asfaltada, mas lembra ainda um caminho que foi surgindo naturalmente para ligar as praias de mar aberto ao outro lado da ilha, voltado para a baía e o continente. Nada de pressa ou complicação. Passamos por casinhas simples e pequenos povoados, entrando aos poucos na vida mais real e íntima da ilha.

A vila se revela devagar. Aos poucos, a Rodovia Baldicero Filomeno, que começa no trevo com a SC 405 e  segue até o extremo sul da ilha, vai virando uma rua charmosa, cercada por casas antigas bem cuidadas, com floreiras nas janelas e jardinzinhos coloridos. Ambiente perfeito para estacionar o carro e seguir a pé, aproveitando bem cada pedacinho da vila.

Uma vila açoriana cheia de história

 

Mesmo em plena temporada, o clima é de calmaria. A vila  é bem mais tranquila, por exemplo, que Santo Antônio de Lisboa, o bairro histórico mais conhecido de Florianópolis, na parte norte da ilha.

Ribeirão da Ilha pode ser menos badalada, mas não perde em nada no quesito casario antigo e preserva com cuidado seus traços de arquitetura açoriana dos séculos XVIII e XIV. Os primeiros moradores da vila chegaram aqui em meados dos 1700, junto com os imigrantes vindos do Arquipélago de Açores para colonizar Florianópolis.

 

Talvez por estar longe do centro e das praias mais famosas, como Ingleses e Canasvieiras, o comércio por aqui é mais enxuto. Mas muitas das casas com eira e beira sob os telhados vermelhos já viraram lugares aconchegantes, com música escapando pelas janelas. Daqueles que a gente adora entrar  para tomar um café e ver a vida passar lá fora pelo janelão de madeira.

 

Igreja Nossa Senhora da Lapa.

 

Depois do café, seguimos até parte mais alta da vila, onde fica a igrejinha de Nossa Senhora da Lapa, construída em 1806 ao lado da capela do Divino Espírito Santo. Diante dela, a praça e o mar tranquilo mostram uma Florianópolis pelo lado de dentro, suave e discreta.

Dali em diante a avenida segue beirando a orla, onde os moradores batem papo e tomam uma cerveja enquanto os turistas procuram a  os restaurantes especializados em ostras e outros frutos do mar.

As ostras e as curiosidades de Ribeirão da Ilha

A arquitetura colonial é o cenário perfeito, mas a maior atração turística de Ribeirão da Ilha vem do mar.

Embora a pesca seja uma tradição antiga na baia, a produção de ostras é relativamente recente e não surgiu por acaso. As primeiras fazendas marinhas, como são chamadas as áreas de cultivo flutuante, surgiram na década de 1990 com o apoio da Universidade Federal de Santa Cantarina.

A ideia de criar uma alternativa econômica para a região que andava decadente deu muito certo. Hoje a atividade sustenta mais de 5 mil pessoas. Ribeirão da Ilha produz mais de 70% das ostras de Florianópolis e se tornou uma Vila Gastronômica especializada na iguaria.

O sucesso da criação de ostras mudou muita coisa. Os velhos trapiches de madeira que serviam aos pescadores, foram reformados e viraram restaurantes pitorescos  que servem a especialidade da vila em dezenas de versões, uma melhor que a outra.

 

Trapiche do Restaurante Nostradamus.

 

O restaurante Ostradamus

A maior atração da maioria dos restaurantes, além da qualidade dos pratos, é a vista para as águas calmas da baía de onde sai a iguaria que você está comendo. Mas Ostradamus é uma atração à parte, e por vários motivos.

O restaurante mais famoso de vila nasceu e cresceu junto com a produção de ostras em Ribeirão da Ilha. O proprietário e hoje chefe de cozinha Jaime Barcelos é um daqueles casos de sucesso que a gente lê em revista de negócios.

 

Restaurante Ostradamus.

Morador da região, Jaime foi dono de oficina mecânica e de lanchonete. Quando os turistas começaram a chegar, atraídos pela fama das ostras, ele tratou logo de servir as suas. Primeiro, ao natural e ao bafo. Depois, conforme as exigências dos clientes cresciam, o novo chef foi em busca de receitas e informação.

Hoje, quando você pisa no Ostradamus, parece que está entrando em um navio pirata. A decoração lembra um convés em todos os detalhes, como o cardápio em forma de pergaminho. Os lugares no tradicional trapiche, climatizado e enfeitado com velas, são disputados pelos clientes.

 

O cardápio oferece frutos do mar com destaque, claro, para as ostras em diversas versões. E aí, surge outro diferencial. O restaurante tem a própria fazenda marinha e um sistema sofisticado de depuração, que elimina possíveis toxinas dos moluscos. Todas as ostras que você come ali são, literalmente, produzidas pelo Ostradamus. Quer luxo maior?

 

Serviço

Como chegar a Ribeirão da Ilha

Vários caminhos levam à vila.

Vindo do continente, você pode pegar a Rodovia Governador Gustavo Richard após a Ponte Pedro Ivo Campos. Ao deixar a orla, a Rodovia vira SC 405.  Permaneça à direita nos dois trevos seguintes. Da ponte até a vila, são cerca de 20 quilômetros.

Se você está na região da Lagoa da Conceição, pode pegar a Rua Laurindo Januário da Silveira (antes da Av. Das Rendeiras para quem vem do centro), que depois vira SC 406. No trevo seguinte, entre à direita e siga pela SC 405 até Ribeirão. São também cerca de 20 quilômetros. É possível também entrar na SC 406 após a vila de Lagoa da Conceição.

 

 

FOTOS: Cassiana Pizaia

 

 

por Cassiana Pizaia
compartilhe:

comentários

  1. Stelamaris
    31 out 2017

    Como sempre linda tua visão e capacidade de observar lugares lindos e sabê-los explicar tão fielmente . Me senti novamente lá e morrendo de vontade de comer as ostras do Ostradamus , sem duvida o melhor lugar ! 👍😘😘

    • Cassiana Pizaia
      31 out 2017

      Obrigada, Stelamaris. Eu também já estou morrendo de vontade de voltar lá! 😉

  2. Gabriela
    31 out 2017

    Seu relato minucioso sobre a beleza singela do Ribeirão da ilha me fez retornar às memórias da infância. Floripa é uma ilha de muitas facetas, diferentes ritmos, aromas e paisagens. Sob sua ótica ficou ainda mais especial.

    • Cassiana Pizaia
      06 nov 2017

      Verdade, Gabriela. Por isso, a ilha é tão fascinante. Obrigada!

Deixe um comentário para Stelamaris Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.